quinta-feira, julho 11, 2013

FLIP 2013 - DOMINGO - ÚLTIMO DIA

Domingo. Último dia da Flip. Dia ensolarado, fresco, céu azul. Último dia... da Flip! Que pena! Já pintava uma saudade que só passará quando chegar agosto de 2014, na 12ª edição. Ás 11 horas, assistimos ao debate Graciliano Ramos: Políticas da escrita, com Wander Melo Miranda, Lourival Holanda e Erwin Torralbo Gimenez. Falaram sobre a escrita sucinta e objetiva de Graciliano e a adequação da linguagem às situações. Quando questionado pelo público, sobre a suposta ambiguidade de Graciliano ao ler a Bíblia e ser ateu, o professor Lourival Holanda, sabiamente respondeu que o intelectual lê a Bíblia porque ela contém a história da civilização ocidental, a lê com um olhar crítico, enquanto que o religioso a lê para seguir o que está escrito (grifo meu). Depois disso, almoçamos e chegamos com 1hora de antecedência às portas da Casa do Autor Roteirista para sua última apresentação, O Humor e os Limites do Humor, com Allan Sieber, roteirista do Casseta e Planeta, Newton Cannito, o curador da Casa e Domingos Montagner, ator global. Antes do debate, Mariana Ximenez leu um conto de Newton Cannito muito divertido e Domingos Montagner nos presenteou com uma amostra teatral que faz em seu circo, onde atua como palhaço. A seguir, o debate enveredou para os limites éticos que são impostos aos humoristas e suas piadas, no Brasil. No final, fizemos questão de abraçar Thelma Guedes, parabenizando-a pelo sucesso da Casa do Autor Roteirista. A última mesa da Flip, tradicional, foi a Livro de Cabeceira. A mesa foi composta na maioria por estrangeiros e aí ficamos a mercê dos tradutores. Serviu para comprovar o que sinto há tempo, a literatura brasileira, e posso estender até a portuguesa e a latina, são bem mais interessantes do que a europeia e a norte-americana. Eu convidaria apenas uns dois estrangeiros e os outros seriam brasileiros. Talvez, o curador pudesse estender o convite para a última mesa aos autores, intelectuais e outras personalidades que participaram dos eventos paralelos, que benefeciaram o público excedente, que não teve oportunidade de estar nas tendas. Para consolidar a Flip 2013 o clímax foi alcançado pelo carnaval que se seguiu, com distribuição gratuita de cachaça da região. Escritores, intelectuais, moradores, turistas, roteiristas e outros, em um cortejo enorme, saíram todos juntos atrás da banda de carnaval e dos bonecos gigantes do bloco Assombrosos de Jabaquara, pelas ruas de Paraty.
                Enfim, a Flip de 2014 acontecerá em agosto, por conta da Copa do Mundo. Espero que pelo menos, por ser em agosto (julho sempre tem férias escolares), Paraty suporte a multidão que a cada ano aumenta mais... fãs da Flip? Adoradores de literatura? Fãs dos artistas presentes? Fãs da badalação? Todos juntos, cada vez mais atraídos pelo charme cultural da Flip e de Paraty.

Texto: Denise Constantino

Fotos: Carmen Amazonas

FLIP 2013 - SÁBADO

No sábado, enquanto Carmen foi para a palestra “A Escola que queremos é uma escola de leitores”, na Casa de Cultura, eu fui para a Casa Folha assistir Zeca Camargo em “Nu”. Simpático, bem humorado, ligado no 220 volts, Zeca Camargo falou sobre sua vida profissional e sobre seu novo livro: Nu, que será lançado em agosto em forma de e-book pela editora E-Galáxia. No livro, ele relata reflexões sobre seus 50 anos de vida e de como lidar com a idade e as consequências que ela causa no corpo e na alma. A hora do almoço foi um martírio para encontrar um restaurante. A cidade estava insuportavelmente lotada e só conseguimos almoçar lá pelas 3 da tarde. Nesse dia, houve também uma manifestação de moradores, carregando cartazes com diversas reivindicações, que circulou pelas ruas de Paraty, chamando a atenção dos turistas. Já de tardezinha, nos estabelecemos na tenda da Flipinha e assistimos o final de uma conversa com vários escritores que discutiram sobre as obras de Graciliano e declamaram poesias. A seguir, já com a tenda e arredores lotados, Adriana Calcanhoto entrou com seu violão para lançar seu novo livro: Poesia Brasileira para crianças de qualquer idade, onde ela organizou poesias de poetas brasileiros e também ilustrou. Foi entrevistada por Arthur Dapieve, cantou as poesias do livro e, embora o som estivesse baixo e o ruído sonoro devido ao número de pessoas presentes, perturbador, a apresentação foi instigante. No final, enfrentei uma fila de 1 hora para pegar seu autógrafo. Valeu! Às 9h30m, pegando carona na onda de manifestações e protestos pelo Brasil afora, assistimos ao debate O Poder e o Povo,  com André Lara Rezende, um dos responsáveis pelo Plano Real e Marcos Nobre, com mediação do jornalista da Globo, William Waack. A discussão foi acalorada do início ao fim, um discordando do outro e com várias interrupções inconvenientes do mediador, o que ocasionou reclamações e vaias do público inflamado. Para ilustrar o debate, um jovem mais afoito, se manifestou de forma exaltada para os padrões Flip e foi arrastado para fora da tenda pelos seguranças. No final, depois de se cansar da hostilidade do público, o jornalista William Wack, firmemente e compenetrado, declarou que trabalha na Globo, mas que estava ali como pessoa física e expôs sua opinião, mencionando sua experiência de anos, dizendo que: “movimentos sociais sem clara definição (difusos) provocam menos mudanças do que as esperanças que despertam”, citando como exemplo a Argentina e a Itália. Bravo!

Texto: Denise Constantino

FLIP 2013 - SEXTA-FEIRA


                A sexta-feira foi super concorrida. Correria geral para não perder nada e conseguir lugar nas Casas, onde as filas estavam imensas. Primeiro, assistimos ao debate Graciliano Ramos: Ficha Política, com Randal Johnson, Sérgio Miceli e Dênis de Moraes, falando sobre a vida política de Graciliano. Fizeram uma análise sociológica dos personagens dos 3 livros do autor: Caetés, São Bernardo e Angústia e sobre sua vida política, desde quando foi prefeito da cidade de Palmeira dos Índios, até sua prisão durante a ditadura, acusado de envolvimento com o comunismo. Falou-se sobre a importância do intelectual na vida pública e compararam o político Graciliano, ético, que denunciou vários casos de omissão, com os políticos de hoje. Foi citado o que Graciliano pensaria sobre a Flip em sua homenagem: que a Flip era um “rapapé” burguês e que dedicar uma Flip inteira a ele seria um exagero. Às 14h, na Casa do Autor Roteirista, enfrentamos uma fila considerável para assistir o debate Dias Gomes e o Realismo, com Ricardo Linhares, que fez o remake de Saramandaia, Lima Duarte e José Wilker, com mediação de Edney Silvestre. A disputa pelos 53 lugares foi acirrada, a ponto de quase se transformar numa manifestação revolucionária, em protesto contra tão pouco espaço para tão grandes personalidades e discussões. Carmen ficou até o fim, eu corri até a Casa do Instituto Moreira Salles – IMS com o intuito de conseguir um bom lugar para ver Adriano Calcanhoto no debate “Poesia de Mário Quintana”. Como cheguei 1 hora antes, deu tempo para assistir à jovem escritora franco-iraniana Lila Azam Zanganeh, que se dedica ao estudo das obras de Nabokov. Às 17h em ponto, Adriana Calcanhoto, simpática, leve, com longos e lisos cabelos, chegou para falar sobre sua carreira e o novo livro que lançaria no dia seguinte, na Flipinha. Foi entrevistada pela também jovem escritora, filha de Affonso Romano e Marina Colasanti, Alice Sant’Anna, inibida e pequena diante de Adriana. Casa lotada, gente tietando no término e eu consegui algumas boas fotos. Nem deu tempo para lanche, encontrei Carmen e corremos para a tenda dos autores para assistir “Lendo Pessoa”, com Maria Bethânia e uma das maiores autoridades em literatura portuguesa no Brasil, a professora Cleonice Berardinelli, com seus 96 anos. Aclamação total do público, aplaudida de pé assim que entrou na tenda, ajudada pelo mediador. Intercaladamente, ou complementarmente, as duas leram e declamaram poesias de Fernando Pessoa. A admiração total não foi somente por seu estudo sobre Pessoa, ou pela sua perfeita declamação, mas pela sua lucidez, intelectualidade e paixão por Fernando Pessoa, expresso pela professora Cleo. Depois dessa etapa, encolhidas de frio e nos sentindo da Serra Gaúcha, pois só víamos pessoas bem agasalhadas, com gorros, pesados casacos e cachecóis, fomos para a tenda do telão assistir à aula-show Vinicius 100: palavra e música, com Paula Morelembaun, José Miguel Wisnick e Arthur Nestrovski. Show estupendo e nostálgico, com declamação de poesia e música em homenagem aos 100 anos de Vinicius de Moares. Lindo!

Texto: Denise Constantino

FLIP 2013 - QUINTA-FEIRA


Na quinta-feira, participamos de uma oficina na Casa do Clube dos Autores, parceira da Off Flip, “Escrita (genuína) de Projetos Literários para leis de incentivo”, ministrada pelo projeto Viva Letramento. Foi uma troca enriquecedora e percebemos mais uma vez que para escrever um projeto e utilizar as leis de incentivo requer muita persistência, amor e paciência. A palavra “genuína” citada, diz respeito a deixar com que seu desejo, sua paixão pelo que faz, se manifestem como uma inspiração para escrever os textos do projeto. E, como sempre, surgiram as reclamações sobre a dificuldade de conseguir que um projeto seja patrocinado. Depois do almoço, conseguimos ingresso somente na tenda do telão, para assistir à mesa Zé Kleber, “Culturas Locais e Globais” com Gilberto Gil e a historiadora Marina de Mello e Souza. O debate começou com um depoimento gravado por Luis Perequê sobre o Defeso Cultural. Pelo que entendi, o Defeso Cultural é uma espécie de defesa da cultura local e tradicional em detrimento à cultura trazida de fora, contemporânea, como o caso da Flip que invade a cidade de Paraty durante 5 dias, embora proporcione benefícios à economia. Isso foi bem discutido durante o debate, inclusive com Gilberto Gil brincando linguisticamente com a palavra “defeso”. Depois disso, rumamos para a Casa do Autor Roteirista, comandado pela autora de novelas da Globo, simples e simpática, Thelma Guedes e Newton Cannito, também escritor. A programação da Casa estava riquíssima e imperdível. 

Texto: Denise Constantino

FLIP 2013 - QUARTA-FEIRA

A FLIP, realizada entre nos dias 3 a 7 de julho de 2013, em Paraty, homenageando Graciliano Ramos, mais uma vez prova que é o maior festival literário do Brasil, como disse Gilberto Gil, e a cada ano, mais pessoas chegam à cidade de Paraty ávidos por badalação e literatura. Novamente, relatarei o que vi e o que senti, do início ao fim. Este ano, optamos por caçar pelas ruas de pedras os eventos paralelos, que prometiam maravilhar, em vez de assistir às mesas que aconteceram nas tendas. Não me arrependi e como previ, os eventos paralelos que aconteceram na Casa da Cultura, Flipinha, Casa do Instituto Moreira Salles, Casa Folha, Casa da Liberdade, Casa do Clube dos Autores e Casa do Autor Roteirista surpreenderam. A abertura coube a Milton Hatoum, que destrinchou as obras de Graciliano Ramos: Infância, Caetés, São Bernardo, Angústia e Vidas Secas. Mais tarde, às 9h30m, o show de Gilberto Gil arrebatou uma multidão, que sem lugar do lado de dentro, preencheu os espaços externos. Gil dispensa elogios, sua história e repertório falam por si só e suas canções de apelo social condizem plenamente com o momento atual do Brasil. Tudo conspira a favor da Flip; esse ano, uma figura muito lembrada pelos palestrantes e pensadores sobre as obras de Graciliano, a cadela Baleia de Vidas Secas, parecia ter reencarnado nos vários cães que encontramos pelas ruas de Paraty. Quem não se apaixonou pela cadela humanizada pelo escritor? As cenas de Baleia no livro sempre são as que mais emocionam a todos que o leem. 

Texto: Denise Constantino
Foto: Carmen Amazonas