sexta-feira, janeiro 22, 2010

2010 - início conturbado


(foto tirada do rio da Japuíba depois das águas baixarem)

Embora este blog seja voltado para a arte, à cultura e à literatura, não podemos deixar de expressar aqui nossa preocupação com o estado que se encontra nossa cidade. Todos procuram uma resposta, todos culpam o outro, mas o que é necessário neste momento, além de dar total apoio às vítimas, é encontrar uma solução corretiva, já que a preventiva foi deixada para trás. Lendo um jornal, encontrei uma entrevista muito interessante e pertinente com o teólogo, filósofo e escritor Leonardo Boff e deixo aqui alguns fragmentos:

"Chegamos a um ponto em que todos seremos afetados pelas mudanças climáticas. Todos corremos riscos, inclusive de grande parte da humanidade ter de desaparecer por não conseguir se adaptar nem mitigar (abrandar) os efeitos maléficos do aquecimento global. Não podemos confiar nosso destino a representantes políticos que, na verdade, não representam seus povos mas os capitais com seus interesses presentes em seus povos. Precisamos nós mesmos assumir uma tarefa salvadora. Cada um em seu lugar, cada comunidade, cada entidade, enfim, todos devem começar a fazer alguma coisa para dar um outro rumo a nossa presença neste planeta. Se não podemos mudar o mundo, podemos mudar este pedaço do mundo que somos cada um de nós. [...] O bem que fazemos não fica reduzido ao nosso espaço pessoal. Ele se ressoa longe, irradia e entra nas redes de energia que ligam todos com todos e reforçam o sentido profundo da vida. Daí podem ocorrer emergências surpreendentes que apontam para um novo modo de habitar o planeta e novas relações pessoais e sociais mais inclusivas, solidárias e compassivas..."

"...Bem dizia Hegel: o ser humano aprende da história que não aprende nada da história, mas aprende tudo do sofrimento. [...] Santo Agostinho ponderava: o ser humano aprende a partir de duas fontes de experiência: o sofrimento e o amor. O sofrimento pela mãe Terra e por seus filhos e filhas e o amor por nossa própria vida e sobrevivência irão ainda nos salvar."

"Então não estaríamos face a um cenário de tragédia cujo fim é fatal, mas de uma crise que nos acrisola (aperfeiçoa) e purifica e nos cria a chance de um salto rumo a um novo ensaio civilizatório, este sim, caracterizado pelo cuidado e pela responsabilidade coletiva pela única Casa Comum a todos os seus habitantes."

"Toda esta civilização oferece aos seres humanos, como felicidade, a capacidade de consumo sem entraves, seja dos bens naturais seja dos bens industriais. Chegamos ao ponto em que consumimos 30% a mais do que aquilo que a Terra pode reproduzir. [...] Ela simplesmente não aguenta mais o nível excessivo de consumo por parte dos donos do poder e dos controladores do processo da modernidade. Agora nos damos conta de que uma Terra limitada não suporta um projeto ilimitado."

"Deve-se começar em algum lugar. O lugar mais imediato é começar com cada um. O desafio, face ao problema universal, é convencer-se de que podemos ser mais com menos. Importa fazer uma opção por uma simplicidade voluntária e por um consumo compassivo e solidário pensando em todos os demais irmãos e irmãs e demais seres vivos da natureza que passam fome e estão sofrendo todo tipo de carência. Mas para isso, devemos realizar a experiência radicalmente humana de que de fato somos todos irmãos e que somos ecointerdependentes e que formamos a comunidade da vida."

"A economia se orientará para produzir o que realmente precisamos para a vida e não para a acumulação e para o suplérfuo, uma economia do suficiente e do decente para todos, respeitando os limites ecológicos de cada ecossistema e obedecendo aos ritmos da natureza. Isso é possível. Mas precisamos de uma metanoia (mudança de pensamento) bíblica, de uma transformação de nossos hábitos, de nossa mente e de nossos corações. Essa transformação constitui a espiritualidade. Ela não é facultativa, é necessária. Cada um é como a gota da chuva. Uma molha pouco. Mas milhões e milhões de gotas fazem uma tempestade, agora um tsunami do bem."
Disso sabem os angrenses.