Esta poesia ficou entre as 60 no concurso literário da Editora Litteris
por: Denise Fonseca
Quando perdi meu grande amorVieram me dizer algumas palavras,
Que revolveram meu orgulho
E amaciaram minha dor.
Da minha boca, nenhuma palavra.
Estavam fragmentadas em meu coração
Despedaçado na desilusão e amargor.
Quando deixei de amar alguém
Ouvi dele as palavras:
Juras de amor e abandono,
De desamparo e aflição.
Da minha boca só uma palavra,
A da compaixão, mas, da resolução:
Eu não mais te amo!
Quando encontrei meus amigos
Havia tantas palavras a trocar.
Afeto, carinho, amizade,
Novidades e triviais também.
E nas nossas bocas se emaranhavam
E saltitavam livres e eufóricas, muitas palavras.
Quando vi uma flor desabrochar
Palavras se desenharam em minha mente.
Da minha boca só um: oh!
Pois elas ficaram inibidas
Diante da beleza singular.
Quando meu pai morreu
Vieram me dizer algumas palavras:
Condolências, afago, não sei o que.
Vazias para ouvir e penosas para dizer.
Da minha boca, nenhuma palavra.
Elas rolavam dos meus olhos,
Diluídas no egoísmo da dor.
Quando falei com Deus,
Da minha boca, nenhuma palavra.
Não ouvi nenhuma palavra.
Deus ouve os pensamentos
E fala através da nossa consciência
Com emanações de conforto à alma.
Quando vi uma criança chorar,
E o velho abandonado,
O doente no hospital
E o descrente pelas ruas,
Da minha boca vieram palavras
De clamor em verso, prosa e canto,
Para não perderem a coragem e a fé.
Quando me perguntaram o que são palavras,
Da minha boca saíram palavras:
É o encantamento e o milagre.
A força que derruba barreiras e transforma.
Ditas no momento certo é luz que transcende.
No momento indevido é faca no coração.
O vento as leva, mas seu espírito vagueia.
Enaltecem a alma.
Iluminam o caminho.
É elo entre nós humanos.
As palavras são tudo.
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